terça-feira, 8 de novembro de 2016

Alfeite em 1881, a pintura naturalista ao ar livre de António Ramalho

Em 1880, ainda aluno das Belas-Artes, nas suas peregrinações artísticas em companhia do mestre Silva Porto descobrem um determinado recanto da praia do Alfeite, na margem fronteira a Lisboa. Trata-se de uma pequena enseada bordejada por falésias, com o casario de Almada recortado ao fundo na linha do horizonte.

Tejo junto à Praia do Alfeite, António Ramalho, 1880.
Imagem: Alexandra Reis Gomes Markl, António Ramalho, Pintores Portugueses, Lisboa, Edições Inapa, 2004

Ambos irão pintar o local, colocando o cavalete em pontos próximos. Ramalho retomará, ao longo dos meses seguintes, o mesmo ponto de vista em diversas versões, utilizando quer o óleo quer a aguarela, de que desde cedo se tornou exímio executante [...]

Praia do Alfeite, aguarela, António Ramalho, 1881.
Imagem: Alexandra Reis Gomes Markl, Op. Cit.

Com o recuo do ponto de vista, o volume dos rochedos e da massa do casario perde peso no interior da composição, que, entretanto, ganha uma nova espacialidade interior, através do prolongamento da extensão do areal [...]

Praia do Alfeite, António Ramalho, 1881.
Imagem: Alexandra Reis Gomes Markl, Op. Cit.

Guiado pelo exemplo tutelar de Silva Porto, através do seu convívio e ensinamentos, António Ramalho enfrenta o tema da paisagem, procurando-se a si próprio. A lição do paisagismo francês e dos pintores de Barbizon só a conhece por intermédio das notícias e dos trabalhos do próprio Silva Porto [...]

Paisagem na Real Quinta do Alfeite, António Ramalho, 1881.
Imagem: Alexandra Reis Gomes Markl, Op. Cit.

Quase despercebida entre os troncos e as sombras, deparamo-nos com a figura do pequeno cavador que trabalha para manter aberto e limpo o canal de rega, veio de vida neste espaço cultivado [...]

Pomar do Antelmo, Alfeite, António Ramalho, 1881.
Imagem: Alexandra Reis Gomes Markl, Op. Cit.

O tema da paisagem com laboriosas lavadeiras [...] parecia agradar ao público e à crítica. As comuns tarefas quotidianas, desempenhadas por homens e mulheres do povo, passavam a constituir motivo de interesse para os pintores.

Lavadeiras na Romeira, Alfeite, António Ramalho, 1881.
Imagem: Alexandra Reis Gomes Markl, Op. Cit.

A Ramalho não interessava, porém, registar o aspecto documental dessas cenas mas antes reforçar a sua valorização poética. (1)


(1) Alexandra Reis Gomes Markl, António Ramalho, Pintores Portugueses, Lisboa, Edições Inapa, 2004 

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