Vista panorâmica de Almada e do rio Tejo tomada da Serra de Monsanto, 1962. Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa |
[...] um simples arrolamento das muitas funções que desempenhou [Henrique Tenreiro] até 1974, seja no sistema político (União Nacional, Assembleia Nacional e Câmara Corporativa), seja nas organizações milicianas do regime (Legião Portuguesa)
Federação Nacional para a Alegria no Trabalho (F.N.A.T.). Costa da Caparica, aspecto do almoço dos trabalhadores dos Sindicatos Nacionais,1937. Imagem: Arquivo Nacional Torre do Tombo |
ou, sobretudo, na administração das pescas, nunca deixará perceber os poderes que alcançou, a extrema influência que exerceu e o modo como teceu e sedimentou, dentro do regime, um subsistema de poder dotado de uma escassa vigilância institucional por parte do chefe do governo.
Bairro piscatório da Caparica, comandante Tenreiro e dr. Pimenta da Gama, 1938. Imagem: Arquivo Nacional Torre do Tombo |
[...] importa sintetizar as etapas essenciais da trajectória de H. Tenreiro, situar os momentos chave da sua afirmação política e discutir as razões pelas quais firmou no sector das pescas um poder cuja espessura em muito ultrapassou as funções de que fora incumbido a 20 de Julho de 1936: delegado do governo junto do Grémio dos Armadores de Navios de Pesca do Bacalhau.
Almirante Henrique Tenreiro Imagem: Fragata D. Fernando II e Glória |
Ao poder financeiro Tenreiro acrescenta extensos poderes de gestão empresarial de um expressivo sector público-corporativo das pescas que, por finais de 1960, engloba trinta «organizações», entre grémios, sociedades mútuas de seguros, cooperativas de aprestos e empresas dependentes da organização corporativa.
Anúncio do SAPP, Serviço de Abastecimento de Peixe ao País.
Agência Sonarte de Artur Agostinho
Vídeo: LUSITANIATV
Desde o tempo da guerra, Tenreiro impõe a concentração de capitais em sociedades de armadores controladas pelos grémios (casos da SNAB [Sociedade Nacional dos Armadores do Bacalhau] e da SNAPA [Sociedade Nacional dos Armadores da Pesca de Arrasto]). (1)
Pragal Construção da Ponte Salazar e navio Vasco d'Orey. Imagem: Bacalhoeiros de Portugal no Facebook |
No contexto do corporativismo do Estado Novo, e na dependência do Grémio dos Armadores de Navios de Pesca do Bacalhau, criado em 1935, surge em 1938 outro corpo cooperativista, que funcionava como central de compras para todos os armadores, a Cooperativa dos Armadores de Navios de Pesca do Bacalhau.
Navios no cais do Ginjal, Real Bordalo, 1976. Imagem: eBay |
O incremento da frota pesqueira (de 16.500 toneladas em 1936 passa a 60.000 em 1954) é acompanhado, a partir de 1939, pela instalação no Ginjal da Cooperativa dos Armadores [de Navios] de Pesca do Bacalhau, que dá às empresas associadas facilidade no abastecimento dos navios e concede assistência aos pescadores.
Bacalhoeiros no cais junto à fábrica do Gelo. Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa |
No espaço anteriormente ocupado pela fábrica de cortiça Symington e pelos estalairos navais de Hugo Parry surgem assim enormes edifícios que aproveitam e ampliam as oficinas pré-existentes [...]
Pontões de acostagem junto à instalações do Grémio no cais do Ginjal. Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa |
Os edifícios albergaram ainda a Sociedade de Reparações de Navios [...] (2)
Navio arrastão lateral, Pedro de Barcelos frente ao cais do Ginjal. Os edifícios à esquerda, a meia encosta, eram a fábrica do óleo de fígado de bacalhau. Imagem: SHIPS & THE SEA — BLOGUE dos NAVIOS e do MAR |
A Sociedade de Reparações de Navios [SRN, Sorena] é constituída em 9 de outubro de 1942 num contexto económico de reforço ao sector das pescas, destinava-se à reparação da frota das duas societárias (a SNAB [Sociedade Nacional dos Armadores do Bacalhau] e a SNAPA [Sociedade Nacional dos Armadores da Pesca de Arrasto]) no que respeita a todas as especialidades desde reparções ocasionais a transformações mais profundas.
Sociedade de Reparações de Navios, após um incêndio na década de 1960. |
Produzia todo o tipo de equipamento e apetrechos de pesca desde materiais de detecção a materiais de captura de pescado.
Arrastão Luis Ferreira de Carvalho, frente ao cais da SNAB, 1986. Imagem: Navios à vista |
Encerrou a actividade em setembro de 1986 com apenas 10 trabalhadores, tendo vindo a extinguir-se, formalmente, por falência, em 3 de fevereiro de 1992. (3)
(1) Garrido, Álvaro, Henrique Tenreiro — "patrão das pescas" e guardião do Estado Novo.
(2) Gonçalves (coord.), Elisabete, Memórias do Ginjal, Almada, Centro de Arqueologia de Almada, 2000, 88 págs.
(3) Luzia, Angela, Esteves, Joana, Santos, Maria José E., A indústria naval em Almada: na rota do progresso, Almada, Câmara Municipal, 2012, 97 págs.
Leitura adicional:
Decreto-lei nº 23802, de 27 de Abril de 1934
1 comentário:
As Pescas e suas Organizações vs Alm. H. Tenreiro "...sua afirmação política e discutir as razões pelas quais firmou no sector das pescas um poder cuja espessura em muito ultrapassou as funções de que fora incumbido..."
De acordo com o cometário supra mencionado! Acontece que no decorrer do tempo o D.L que o nomeou como Delegado do Governo Junto do Grémio dos Navios Bacalhoeiros, estou convencido, as atribuições funcionais do diploma de nomeação muito cedo se revelaram redutoras face às suas capacidade e provas apresentadas e reconhecidas pelas tutelas, como sejam: M.Economia, M.Finanças e M.Corporações com quem ia a despacho. No final dos anos 50 houve uma tentativa de propor H. Tenreiro a Ministro das Marinhas, foi pensado pelos resultados apresentados e pela grande estrutura existente nas Organizações das Pescas, foi pensado criar Ministério das Marinhas (Mercante e Pescas)embora vetado pelos seus pares. Penso ter dado um pequeno contributo.
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